A ASCENSÃO DO REINO
Edir Macedo, o “papa” da Igreja
Universal do Reino de Deus, nasceu em 18 de fevereiro de 1945, na cidade
fluminense de Rio das Flores. È filho do casal de migrantes nordestinos
Henrique e Eugênia, quarto de uma prole de 32 irmãos, dos quais dez morreram e
dezesseis foram abortados.
Da infância dele pouco se sabe, a
não ser que era de família pobre – pai comerciante, mãe dona de casa – e que se
mudou ainda criança para um subúrbio carioca.
Aos 17 anos começou a trabalhar
como office-boy da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), órgão público
da Secretaria de Finanças, de onde se desligou em 1981 como funcionário da
tesouraria. Até os 18 anos, quando se converteu ao pentecostalismo por
influência de sua irmã, “curada” de bronquite asmática na Igreja Nova Vida,
frequentou a Igreja Católica e centros de umbanda. Estudou matemática na
Universidade Federal Fluminense e Estatística, mas não concluiu nenhum do dois
cursos.
Depois ficou doze anos na Nova
Vida, mas, sem espaço para suas pregações consideradas agressivas, criou a
Cruzada do Caminho Eterno, com os amigos Romildo Ribeiro Soares (o mesmo R. R.
Soares que aparece no horário nobre da Rede Bandeirantes de Televisão pedindo
às pessoas para se associarem a Deus doando dízimos à igreja que comanda, a
Internacional da Graça de Deus), Roberto Lopes, que também se desligou da
Universal, e os irmãos Samuel e Fidélis Coutinho. A experiência profissional e
os cursos universitários incompletos guindaram Macedo à tesouraria da igreja.
A Cruzada durou dois anos. Os
frequentes desentendimentos com os irmãos Coutinho levaram Soares, Lopes e
Macedo, reforçado pelo novo amigo Carlos Rodrigues (atual deputado federal pelo
PL-RJ), a fundar a Universal no dia 9 de julho de 1977, na Avenida Suburbana,
no bairro da Abolição, Zona Norte do Rio, espaço antes ocupado por uma
funerária. Para conquistar adeptos, o quarteto pregava de casa em casa, no
coreto do Méier e outras praças públicas vizinhas e em cinemas alugados. A
divulgação dos cultos era feita por dez obreiros, que colavam folhetos nos
postes convidando as pessoas para assistir às reuniões.
Na ocasião, o líder do grupo era
o missionário R.R. Soares. Logo, porém, o estilo autoritário e centralizador de
Edir Macedo ofuscou e pôs em xeque a conduta menos agressiva de Soares. Veio o
impasse. Macedo, então, propôs que os pastores da igreja decidissem a parada no
voto. Derrotado, Soares, casado com uma irmã de Macedo, deixou a Universal e
fundou, em 1980, a sua própria igreja.
Em julho de 1980, Macedo
consolidou-se primaz da Universal ao ordenar ao pastor Lopes que o consagrasse
bispo. Em seguida, despachou-o para São Paulo a fim de implantar o primeiro
templo na cidade, inaugurado no mesmo ano no parque Dom Pedro II. Em 1984,
Lopes retornou ao Rio. Dois anos depois, foi eleito deputado federal pelo
PTB-RJ com mais de 50.000 votos. Em 1987, fascinado com a nova carreira, Lopes
desligou-se da Universal, onde Macedo reinava absoluto: a igreja multiplicava o
número de templos e fiéis no país, graças à pregação ininterrupta na mídia
eletrônica, e já se expandia Brasil afora.
O REINO
A fortuna da Universal é
incalculável. Seu patrimônio visível foi construído por meio de métodos
tortuosos e obscuros. A Rede Record, por exemplo, foi adquirida por seis fiéis
da igreja – Alba Maria Silva da Costa, Claudemir Mendonça de Andrade, José
Fernando Passos Costa, José Antônio Alves Xavier, Márcio de Araújo Lima e João
Monteiro de Castro dos Santos. Eles assumiram pagar 11,7 milhões de dólares em
quinze prestações. Juntos, não teriam dinheiro para honrar nem sequer uma das
parcelas. Por isso, para justificar a origem do dinheiro contraíram um
empréstimo externo em nome de “compradores” , feito por duas empresas em
paraísos fiscais, a Investholding, e a Cableinvest, da ilha de Jersey. Tal “contrato”,
autenticado em Jersey, permitiria à igreja entrar com ação de cobrança no
Brasil, caso os seis laranjas tivessem a audácia de tomar posse da rede, que
hoje possui 67 retransmissoras, próprias ou afiliadas.
Até o ano passado, entre as
empresas que a Universal controlava figuravam a Rede Mulher de Televisão,
quarenta emissoras de rádio (afora as afiliadas e retransmissoras da Record),
uma gravadora (Line Records), duas gráficas (Universal e Edminas), um portal de
televisão na internet (Arca Universal), uma agência de turismo (New Tour), uma
fábrica de móveis (Beta), uma usina de açúcar (Tamanduí), uma construtora
(Unitec), uma empresa de consultoria (LM Participações), duas empresas de
factoring (Unifactoring e Credinvest Facylity, sucessora do Banco Crédito
Metropolitano), uma corretora de imóveis (Cremo Empreendimentos) uma fazenda
(Canãa), dois jornais (Folha Universal
e Hoje em Dia) e uma revista (Ester). Fala-se, agora, no desejo de a
Universal adquirir o controle acionário do Jornal do Brasil.
A universal talvez seja uma das
maiores multinacionais brasileiras. A grande fonte de renda para os seus
investimentos vem dos mais de 3.500 templos no Brasil e setecentos em mais de
oitenta países tão distantes quanto díspares – do Uruguai ao Japão, do Zimbábue
à Suíça. Neles realizam-se pelo menos três sessões diárias de exorcismo. São,
portanto, mais de 12.000 cultos diários – 4,3 milhões de cultos anuais, com
direito e isenção de impostos.
A organização da igreja segue a
lógica empresarial, na forma de pirâmide. Macedo é o dono. Seus auxiliares
diretos pertencem a um seleto grupo de bispos, escolhido a dedo pelo “presidente”.
Os pastores “consagrados”, como gerentes, se desdobram religiosamente para
cumprir as metas de faturamento impostas a cada um. Pelo trabalho, ganham, em
média, 3.000 reais mensais. Os bem-sucedidos na coleta têm direito a casa,
telefone, carro. Mas nenhum desses bens lhes pertence. São da igreja.
Acusado de charlatanismo,
curandeirismo e estelionato, Macedo ficou preso alguns dias em São Paulo, em
maio de 1992. Pela mesma razão, foi novamente detido em novembro daquele ano no
Rio de Janeiro. Cem mil pessoas oraram na praia de Copacabana em vigília pela
sua libertação. À patota íntima confessou um grande desejo: eleger um
presidente do Brasil.
Fonte: autor desconhecido
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