sexta-feira, 1 de junho de 2018

A ascensão do Reino


A ASCENSÃO DO REINO

Edir Macedo, o “papa” da Igreja Universal do Reino de Deus, nasceu em 18 de fevereiro de 1945, na cidade fluminense de Rio das Flores. È filho do casal de migrantes nordestinos Henrique e Eugênia, quarto de uma prole de 32 irmãos, dos quais dez morreram e dezesseis foram abortados.

Da infância dele pouco se sabe, a não ser que era de família pobre – pai comerciante, mãe dona de casa – e que se mudou ainda criança para um subúrbio carioca.

Aos 17 anos começou a trabalhar como office-boy da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), órgão público da Secretaria de Finanças, de onde se desligou em 1981 como funcionário da tesouraria. Até os 18 anos, quando se converteu ao pentecostalismo por influência de sua irmã, “curada” de bronquite asmática na Igreja Nova Vida, frequentou a Igreja Católica e centros de umbanda. Estudou matemática na Universidade Federal Fluminense e Estatística, mas não concluiu nenhum do dois cursos.

Depois ficou doze anos na Nova Vida, mas, sem espaço para suas pregações consideradas agressivas, criou a Cruzada do Caminho Eterno, com os amigos Romildo Ribeiro Soares (o mesmo R. R. Soares que aparece no horário nobre da Rede Bandeirantes de Televisão pedindo às pessoas para se associarem a Deus doando dízimos à igreja que comanda, a Internacional da Graça de Deus), Roberto Lopes, que também se desligou da Universal, e os irmãos Samuel e Fidélis Coutinho. A experiência profissional e os cursos universitários incompletos guindaram Macedo à tesouraria da igreja.

A Cruzada durou dois anos. Os frequentes desentendimentos com os irmãos Coutinho levaram Soares, Lopes e Macedo, reforçado pelo novo amigo Carlos Rodrigues (atual deputado federal pelo PL-RJ), a fundar a Universal no dia 9 de julho de 1977, na Avenida Suburbana, no bairro da Abolição, Zona Norte do Rio, espaço antes ocupado por uma funerária. Para conquistar adeptos, o quarteto pregava de casa em casa, no coreto do Méier e outras praças públicas vizinhas e em cinemas alugados. A divulgação dos cultos era feita por dez obreiros, que colavam folhetos nos postes convidando as pessoas para assistir às reuniões.

Na ocasião, o líder do grupo era o missionário R.R. Soares. Logo, porém, o estilo autoritário e centralizador de Edir Macedo ofuscou e pôs em xeque a conduta menos agressiva de Soares. Veio o impasse. Macedo, então, propôs que os pastores da igreja decidissem a parada no voto. Derrotado, Soares, casado com uma irmã de Macedo, deixou a Universal e fundou, em 1980, a sua própria igreja.

Em julho de 1980, Macedo consolidou-se primaz da Universal ao ordenar ao pastor Lopes que o consagrasse bispo. Em seguida, despachou-o para São Paulo a fim de implantar o primeiro templo na cidade, inaugurado no mesmo ano no parque Dom Pedro II. Em 1984, Lopes retornou ao Rio. Dois anos depois, foi eleito deputado federal pelo PTB-RJ com mais de 50.000 votos. Em 1987, fascinado com a nova carreira, Lopes desligou-se da Universal, onde Macedo reinava absoluto: a igreja multiplicava o número de templos e fiéis no país, graças à pregação ininterrupta na mídia eletrônica, e já se expandia Brasil afora.


O REINO

A fortuna da Universal é incalculável. Seu patrimônio visível foi construído por meio de métodos tortuosos e obscuros. A Rede Record, por exemplo, foi adquirida por seis fiéis da igreja – Alba Maria Silva da Costa, Claudemir Mendonça de Andrade, José Fernando Passos Costa, José Antônio Alves Xavier, Márcio de Araújo Lima e João Monteiro de Castro dos Santos. Eles assumiram pagar 11,7 milhões de dólares em quinze prestações. Juntos, não teriam dinheiro para honrar nem sequer uma das parcelas. Por isso, para justificar a origem do dinheiro contraíram um empréstimo externo em nome de “compradores” , feito por duas empresas em paraísos fiscais, a Investholding, e a Cableinvest, da ilha de Jersey. Tal “contrato”, autenticado em Jersey, permitiria à igreja entrar com ação de cobrança no Brasil, caso os seis laranjas tivessem a audácia de tomar posse da rede, que hoje possui 67 retransmissoras, próprias ou afiliadas.

Até o ano passado, entre as empresas que a Universal controlava figuravam a Rede Mulher de Televisão, quarenta emissoras de rádio (afora as afiliadas e retransmissoras da Record), uma gravadora (Line Records), duas gráficas (Universal e Edminas), um portal de televisão na internet (Arca Universal), uma agência de turismo (New Tour), uma fábrica de móveis (Beta), uma usina de açúcar (Tamanduí), uma construtora (Unitec), uma empresa de consultoria (LM Participações), duas empresas de factoring (Unifactoring e Credinvest Facylity, sucessora do Banco Crédito Metropolitano), uma corretora de imóveis (Cremo Empreendimentos) uma fazenda (Canãa), dois jornais (Folha Universal e Hoje em Dia) e uma revista (Ester). Fala-se, agora, no desejo de a Universal adquirir o controle acionário do Jornal do Brasil.

A universal talvez seja uma das maiores multinacionais brasileiras. A grande fonte de renda para os seus investimentos vem dos mais de 3.500 templos no Brasil e setecentos em mais de oitenta países tão distantes quanto díspares – do Uruguai ao Japão, do Zimbábue à Suíça. Neles realizam-se pelo menos três sessões diárias de exorcismo. São, portanto, mais de 12.000 cultos diários – 4,3 milhões de cultos anuais, com direito e isenção de impostos.

A organização da igreja segue a lógica empresarial, na forma de pirâmide. Macedo é o dono. Seus auxiliares diretos pertencem a um seleto grupo de bispos, escolhido a dedo pelo “presidente”. Os pastores “consagrados”, como gerentes, se desdobram religiosamente para cumprir as metas de faturamento impostas a cada um. Pelo trabalho, ganham, em média, 3.000 reais mensais. Os bem-sucedidos na coleta têm direito a casa, telefone, carro. Mas nenhum desses bens lhes pertence. São da igreja.

Acusado de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, Macedo ficou preso alguns dias em São Paulo, em maio de 1992. Pela mesma razão, foi novamente detido em novembro daquele ano no Rio de Janeiro. Cem mil pessoas oraram na praia de Copacabana em vigília pela sua libertação. À patota íntima confessou um grande desejo: eleger um presidente do Brasil.

Fonte: autor desconhecido

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